quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Balada de Leithian Parte 8


Abaixo segue-se a quinta parte do segundo capítulo da Balada de Leithian. Boa Leitura!

A Aventura de Beren filho de Barahir e Lúthien a elfa chamada Tinúviel o rouxinol ou a Balada de Leithian Libertação do Cativeiro:

De Beren filho de Barahir e a sua fuga

Escuras do Norte agora sopravam as nuvens;
os ventos de Outono frios e barulhentos
assobiavam na erva; tristes e cinzentas
estavam as águas do lamentoso Aeluin.
"Filho Beren", disse então Barahir,
"Tu sabes do rumor que ouvimos
da força da Gaurhoth que foi enviada
contra nós; e a nossa comida esta quase acabada.
Em ti a sorte cai pela nossa lei
de ir agora sozinho para encontrar
a ajuda que puderes dos poucos escondidos
que ainda nos alimentam, e que novidades
há a saber. Que a sorte esteja contigo!
Volta depressa, pois relutantemente
nós te dispensamos da nossa irmandade,
tão pequena: pois Gorlim na floresta
à muito que está perdido ou morto. Adeus!"
Enquanto Beren se afastava, como um eco ainda
ressoava no seu coração aquela palavra,
a última do seu pai que ele ouviu.

Através de campos e pântanos, por árvores e mato
ele vagueou; ele viu o fogo
do campo de Sauron, ouviu os uivos
dos Orcs a caçar e de lobos a rondar;
e voltando a trás, por longo caminho,
a noite rapidamente na floresta caiu.
Com cansaço ele então teve de dormir,
satisfeito para um buraco de texugo rastejou,
e ainda assim ele ouviu (ou sonhou que ouvia)
por perto um exército a marchar
com o tilintar da malha e os choques dos escudos
a subir em direcção aos pedregosos campos montanhosos.
Ele caiu então em trevas profundas,
até que, como um homem que se afoga
chega à superfície arfando, parecia-lhe que
ele subia através de visco perto da beira
de sombrios charcos debaixo de árvores mortas.
Os seus ramos lívidos na brisa fria
tremiam, e todas as folhas negras se agitavam:
em cada folha um negro e barulhento pássaro,
cujo bico uma gota de sangue deixava cair.
Ele tremeu, lutando para de lá rastejar,
através das ventosas ervas, quando muito longe
ele viu uma sombra fraca e cinzenta
deslizando através do triste lago.
Lentamente chegou, e calmamente falou:
"Gorlim eu fui, mas agora um espectro
de vontade derrotado, fé quebrada,
traidor traído. Vai! Não fiques aqui!
Acorda, filho de Barahir,
e apressa-te! Pois os dedos de Morgoth fecham-se
sobre a garganta do teu pai; ele sabe
os vossos locais de encontro, os vossos caminhos, o vosso lar secreto."
Então ele revelou a armadilha diabólica
em que tinha caído, e falhado; e por último
pedindo perdão, chorou, e passou
para a escuridão. Beren acordou,
saltou como que subitamente atacado
com o fogo da raiva cheio. O seu arco
e espada ele agarrou e como um cabrito
rápido nas rochas e no mato ele apressou-se
antes da aurora. Antes do dia morrer
ao Aeluin por fim chegou,
enquanto o sol vermelho se afundava no Oeste em chamas;
mas o Aeluin estava vermelho com sangue,
vermelhas estavam as pedras e a lama pisada.
Pretos nas bétulas sentavam-se em fila
os corvos e aves de carniça;
molhados estavam os seus bicos, e preta a carne
que pingava debaixo das suas patas fechadas.
Um grasnou: "Há, há, ele chega demasiado tarde!"
"Há, há!" os outros responderam, "há! demasiado tarde!"
Então Beren enterrou os ossos do seu pai
com pressa debaixo de um monte de pedras;
nenhumas runas ou palavras ele escreveu
sobre Barahir, mas três vezes bateu
na pedra mais alta, e três vezes bem alto
ele gritou o seu nome. "A tua morte" ele jurou,
"Eu vou vingar. Sim, o meu destino
deve levar-me pelo menos à porta de Angband."
E então ele voltou-se, e não chorou:
tão escuro estava o seu coração, a ferida demasiado funda.
Fora para a noite, tão fria como pedras,
sem amor, sem amigos, ele partiu sozinho.

Da sabedoria dos caçadores ele não precisou
para o rasto encontrar. Com pouca atenção
o seu impiedoso inimigo, seguro e orgulhoso,
marchou para norte com altos sons
de trompas de bronze para o seu senhor saudar,
pisando a terra com pés moedores.
Atrás deles ousado mas esgotado ia
agora Beren, rápido como um cão num rasto,
até que ao lado de um escuro poço,
onde o Rivil subia das profundezas
e descia até ao pântano de Serech em corrente,
ele encontrou os assassinos, os seus inimigos.
De um esconderijo na vertente de uma colina próxima
ele viu-os a todos: apesar de menos do que temia,
demasiados para com a sua espada e arco
matar sozinho. Então, rastejando baixo
como uma cobra na erva, mais perto se chegou.
Ali muitos esgotados com a marcha dormiam,
mas os capitães, deitados na erva,
bebiam e de mão em mão deixavam passar
a sua pilhagem, regateando cada pequena coisa
tirada dos corpos mortos. Um deles um anel
ergueu, e riu: "Agora, companheiros," ele gritou
"aqui está a minha! E eu não serei negado,
apesar de poucos serem iguais a este na terra.
Pois fui eu que o tirei da mão
desse mesmo Barahir que eu matei,
o ladrão maldito. Se as histórias são verdadeiras,
ele recebeu-o de um qualquer senhor élfico,
pelo serviço mercenário da sua espada.
Nenhuma ajuda lhe deu - ele está morto,
São perigosos, os anéis élficos, diz-se;
só pelo ouro eu vou guarda-lo, sim
e assim aumento o meu escasso pagamento.
O velho Sauron mandou-me traze-lo de volta,
e ainda assim, eu acho, que ele não tem falta
de mais riqueza no seu tesouro:
quanto mais grande mais ganancioso o senhor!
Então ouçam, companheiros, isto todos devem jurar
que a mão de Barahir estava nua!"
E assim que acabou de falar uma seta voou
de trás das árvores, e mortalmente
sufocado ele caiu com uma farpa na garganta;
com a face malévola na terra ele bateu.
Avançando, então como um lobo feroz lá saltou
Beren para entre eles. Dois ele varreu
para o lado com a espada; apanhou o anel;
matou um que o agarrou; com um salto
de volta à sombra passou, e fugiu
antes que gritos de raiva e medo
de emboscada nos vales soassem.
Então atrás dele como lobos eles lançaram-se,
uivando e amaldiçoando, rangendo dentes,
cortando e entrando por dentro do mato,
atirando setas selvagens, umas atrás das outras,
às trémulas sombras ou agitadas folhas.
Em profética hora foi Beren nascido:
ele riu-se com os dardos e sonoras trompas;
o mais rápido em pés dos homens vivos,
incansável nos campos e rápido em pântanos,
sábio nos bosques, ele desapareceu,
defendido pela sua malha cinzenta
de arte anã em Nogrod feita,
onde os martelos tocam na sombra das cavernas.

Como destemido Beren foi reconhecido:
quando os homens mais duros sobre a terra
foram cantados o povo falava o seu nome,
predizendo que a sua fama futura
iria até o dourado Hador passar
ou Barahir ou Bregolas;
mas a tristeza agora no seu coração tinha-se tornado
em feroz desespero, não mais ele lutava
com esperança de vida ou alegria ou louvor,
mas procurando usar os seus dias
somente para Morgoth profundamente sentir
o ferrão do seu aço vingador,
antes da morte ele encontrar e o fim da dor:
o seu único medo era as correntes da escravidão.
O perigo ele procurava e a morte perseguia,
e assim escapou do destino por ele pretendido
e acções de espantosa audácia forjou
sozinho, das quais o seu rumor trouxe
nova esperança para muitos homens destroçados.
Eles sussurravam "Beren", e começavam
em segredo espadas a afiar, e docemente
por corações amortalhados ao entardecer muitas vezes
canções eles cantavam do arco de Beren,
de Dagmor a sua espada: como ele ia
silencioso aos acampamentos e matava o chefe,
ou apanhado no seu esconderijo para além da esperança
conseguia escapar, e sobre a noite
pelo nevoeiro ou lua, ou pela luz
do dia aparecia outra vez.
De caçadores caçados, assassinos assassinados
eles cantavam, de Gorgol o Carniceiro decepado,
da emboscada em Ladros, de fogo em Drûn,
de trinta em uma batalha mortos,
de lobos que gemiam como cachorros e fugiam
sim, o próprio Sauron com ferida na mão.
Assim um só encheu toda aquela terra
com medo e morte para o povo de Morgoth;
os seus camaradas eram a faia e o carvalho
que não o traíam, e animais cautelosos
com pêlo e pele e asas emplumadas
que silenciosamente vagueavam, ou que viviam sozinhos
em colinas e na natureza e na desolação das pedras
vigiavam todos os seus caminhos, os seus fiéis amigos.

No entanto raramente bem um fora-da-lei acaba;
e Morgoth era o rei mais forte
que todo o mundo tinha em canção
registado; escura através da terra
chegava a sombra da sua mão,
a cada recuo regressava outra vez;
mais dois exércitos foram enviados para um só inimigo matar.
A nova esperança foi amordaçada, todos os rebeldes mortos;
apagados os fogos, as canções pararam,
árvores caíram, a erva queimada, e através da desolação
marchou a negra hoste de Orcs a correr.
Quase que fechavam o seu anel de aço
a volta de Beren; dificilmente no seu encalço
agora cavalgavam os espiões; dentro da barreira
toda a ajuda era cortada, na orla
da morte à distância ele se manteve aterrado
e sabia que ou tinha que morrer por fim,
ou fugir da terra de Barahir,
a sua terra amada. Ao lado do lago
debaixo de um monte de pedras sem nome
apodrecem esses outrora grandiosos ossos,
esquecidos por filho e família,
pranteados pelas águas do Aeluin.

Numa noite de Inverno o desabrigado Norte
ele deixou para trás, e iludindo
o cerco de seu atento inimigo
ele passou - uma sombra na neve,
um sopro de vento, e ele tinha desaparecido,
a ruína de Dorthonion,
Tarn Aeluin e as suas águas escureceram,
por nunca mais voltarem a vê-lo.
Não mais o arco escondido cantará,
não mais as afiadas setas voarão,
não mais a sua cabeça cobiçada se deitará
sobre a erva debaixo do céu.
As estrelas do Norte, cujo o fogo prateado
os Homens antigos chamaram de Rosa Ardente,
puseram-se por trás das suas costas, e brilharam
naquela terra esquecida: ele tinha desaparecido.

Para Sul ele virou, e para Sul a
sua longa e solitária jornada ficava,
enquanto aparecessem à frente do seu caminho
os temerosos picos de Gorgoroth.
Nunca tinha o pé do homem mais ousado
ainda pisado aquelas montanhas íngremes e frias,
nem subido até ao seu súbito desfiladeiro,
donde, aterrorizados, os olhos sempre se voltam encolhidos
para ver os penhascos do sul cair desviando-se
em pináculos de rochas e contrafortes
descendentes para as sombras que foram postas
antes do Sol e Lua serem feitos.
Em vales tecidas com engano
e lavadas com águas amargas
a magia negra escondia-se em becos e vales;
mas muito longe do alcance
do olhar mortal o olho da águia
de estonteantes torres que furam o céu
podia cinzenta e brilhante ver ao longe,
tão bela como água sob as estrelas,
Beleriand, Beleriand,
as fronteiras da terra Élfica.



2 comentários:

  1. Legal vc estar publicando este poema incompleto do Tolkien aqui :-)

    Quantro a Família Brasil, não fui eu que escrevi não, mas as id´peias originais são todas do Luis Fernando Veríssimo.

    beijo.

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  2. Obrigadu pelo comment, adoro seu blog Jerri! Beijo

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